Hoje o dia foi de preguiça e leitura. Acordei com a ligação do Marcelo Rocha no meu celular, umas 10h30 que ele sabe que não gosto de acordar cedo. Li Pastores da Noite pelo resto da manhã e fiz o mesmo depois do almoço, não sem uma pausa para ouvir de Zangado (aquele que é amigo da família e motorista do Dr.) alguns casos. À tarde o Thomaz recebeu do avô a tarefa ingrata de conseguir a cópia digital de um documento que só tinha impresso. As saídas eram digitar tudo de novo ou buscar na Prefeitura, e o Thomaz já me adiantou que seria demorado. Li um pouco e depois capotei, pra só acordar às 18h.
Falando nisso, no livro (que devo terminar agora à noite), já teve solução o caso de Martim, Marialva e Curió, também negro Massu se tornou compadre de Ogun. Falta agora a solução do caso do morro do Mata Gato pra eu conhecer a história toda e começar minha próxima leitura, que ainda não sei se será O Homem Nu, de Fernando Sabino, ou O Anjo Pornográfico (biografia de Nelson Rodrigues), de Ruy Castro.
Como a história do dia se resumiria a isso, vou me dedicar hoje a falar das pessoas. Não pessoa por pessoa e nome por nome, para não correr o risco de deixar de fora figuras importantes. Ao contrário, vou tentar falar de forma genérica sobre as minhas impressões que foram comuns sobre quem conheci e que acredito serem características comuns ao povo daqui. É já que vocês vão entender do que estou falando.
Primeiramente vale comentar sobre a família. Todos os baianos que conheci foram receptivos, mas esses que me cederam pousada são especialmente dedicados. Nas refeições fazem questão de contar a história do que estou comendo, comparar com outras comidas. Além de falar, a comida em si já é um agrado: todo mundo se preocupa que eu tenha acesso à tão variada culinária daqui, e que me sinta em casa para "merendar" a qualquer hora, como me disse hoje dona Marlene, a avó, uma das que mais se empenha para que me sinta em casa.
Os pais, Cinira e Volney, que pouco vejo porque trabalham demais (e não tem nem domingo direito), me incluem mais que tudo. Fazem planos em que estou envolvido, levam no restaurante para conhecer o caranguejo e fazem das refeições deles as minhas para eu experimentar sempre algo novo.
As próximas duas características da família são também do resto do povo. Todos por aqui gostam de contar casos. Claro que isso deve ser uma característica dos brasileiros, impressionante como todo mundo gosta de histórias, mas por aqui é frequente ouvir histórias do pessoal, que envolvem política, futebol, experiências amorosas e familiares.
O maior representante do gênero? Dr. Ronaldo, que principalmente na hora das refeições mas também às vezes depois delas, pergunta se já ouvimos falar de alguma coisa e, com resposta negativa, se põe a explicar, abre um parêntese e conta um caso, uma experiência, claramente orgulhoso do que viveu e de tudo quanto pode compartilhar. E isso vai de experiências a pontos de vista. Nextante mesmo, acabei de jantar e ouvi na mesa mais um tanto de casos dele, coisa da época de ginásio, da década de 40, que ele se lembra com riqueza de detalhes. Isso de conviver com os avós dele, por sinal, faz um bem danado pra mim que nunca vivi muito essa coisa de casa da avó, já que os meus se foram muito cedo.
E já ouviram falar daquela história de que "amigo do meu amigo é meu amigo"? É essa a segunda característica, que mais do que tudo vale por aqui. Comecei a perceber pela família, que me trata mesmo como se fosse um membro dela, e confia: falam de tudo na minha frente, organizam passeios e/ou viagens incluindo mais um e, como Thomaz não tem carta, quem dirige o carro sou eu. E isso tudo começou antes de me conhecerem. Basta o fato de ser amigo de Thom (apelido dele aqui, afinal num dá pra ser "baiano", né? Este parêntese foi escrito pelo próprio).
Como a história do dia se resumiria a isso, vou me dedicar hoje a falar das pessoas. Não pessoa por pessoa e nome por nome, para não correr o risco de deixar de fora figuras importantes. Ao contrário, vou tentar falar de forma genérica sobre as minhas impressões que foram comuns sobre quem conheci e que acredito serem características comuns ao povo daqui. É já que vocês vão entender do que estou falando.
Primeiramente vale comentar sobre a família. Todos os baianos que conheci foram receptivos, mas esses que me cederam pousada são especialmente dedicados. Nas refeições fazem questão de contar a história do que estou comendo, comparar com outras comidas. Além de falar, a comida em si já é um agrado: todo mundo se preocupa que eu tenha acesso à tão variada culinária daqui, e que me sinta em casa para "merendar" a qualquer hora, como me disse hoje dona Marlene, a avó, uma das que mais se empenha para que me sinta em casa.
Os pais, Cinira e Volney, que pouco vejo porque trabalham demais (e não tem nem domingo direito), me incluem mais que tudo. Fazem planos em que estou envolvido, levam no restaurante para conhecer o caranguejo e fazem das refeições deles as minhas para eu experimentar sempre algo novo.
As próximas duas características da família são também do resto do povo. Todos por aqui gostam de contar casos. Claro que isso deve ser uma característica dos brasileiros, impressionante como todo mundo gosta de histórias, mas por aqui é frequente ouvir histórias do pessoal, que envolvem política, futebol, experiências amorosas e familiares.
O maior representante do gênero? Dr. Ronaldo, que principalmente na hora das refeições mas também às vezes depois delas, pergunta se já ouvimos falar de alguma coisa e, com resposta negativa, se põe a explicar, abre um parêntese e conta um caso, uma experiência, claramente orgulhoso do que viveu e de tudo quanto pode compartilhar. E isso vai de experiências a pontos de vista. Nextante mesmo, acabei de jantar e ouvi na mesa mais um tanto de casos dele, coisa da época de ginásio, da década de 40, que ele se lembra com riqueza de detalhes. Isso de conviver com os avós dele, por sinal, faz um bem danado pra mim que nunca vivi muito essa coisa de casa da avó, já que os meus se foram muito cedo.
E já ouviram falar daquela história de que "amigo do meu amigo é meu amigo"? É essa a segunda característica, que mais do que tudo vale por aqui. Comecei a perceber pela família, que me trata mesmo como se fosse um membro dela, e confia: falam de tudo na minha frente, organizam passeios e/ou viagens incluindo mais um e, como Thomaz não tem carta, quem dirige o carro sou eu. E isso tudo começou antes de me conhecerem. Basta o fato de ser amigo de Thom (apelido dele aqui, afinal num dá pra ser "baiano", né? Este parêntese foi escrito pelo próprio).
Tem moral esse Thom, viu?
Isso de eles me incluírem na família vai me fazer querer voltar mais vezes. E na próxima não vai ser pelo turismo, mas para visitar essa galera toda por quem já tenho enorme apreço.
O mesmo acontece com os amigos. Comecei a comentar isso com o Thomaz quando ouvia abertamente o pessoal falando de qualquer coisa comigo junto, e me incluindo no papo. Esse "qualquer coisa" ainda não é suficiente para explicar: batendo uma resenha na praça, comendo água (Schin ou Skol, tanto faz) na companhia de belas mulheres e homens muito gente boa, ou mesmo aqui na casa, na varanda, conversando com menos gente, o assunto foi mais de uma vez para papos íntimos, seja falando de sentimentos e contando segredos, ou falando de sacanagem mesmo.
O mesmo acontece com os amigos. Comecei a comentar isso com o Thomaz quando ouvia abertamente o pessoal falando de qualquer coisa comigo junto, e me incluindo no papo. Esse "qualquer coisa" ainda não é suficiente para explicar: batendo uma resenha na praça, comendo água (Schin ou Skol, tanto faz) na companhia de belas mulheres e homens muito gente boa, ou mesmo aqui na casa, na varanda, conversando com menos gente, o assunto foi mais de uma vez para papos íntimos, seja falando de sentimentos e contando segredos, ou falando de sacanagem mesmo.
O primeiro bom papo na praça, na sexta-feira
Na hora só conseguia imaginar a situação oposta: eu falando com uma grande amiga sobre intimidades e ela me cutucando ou olhando com uma cara de "ei, vai falar isso na frente dele?", se referindo a um estranho na roda. Aqui isso não aconteceu sequer uma vez. Falei disso com Thomaz e com algumas pessoas em uma dessas rodas de conversa. A resposta foi sempre a mesma: "você não é amigo de Thomaz? Então pronto".
Claro que não se pode generalizar, como em qualquer grupo de pessoas a quem você se refira. Tanto por aqui tem gente mais tímida quanto em São Paulo tem gente que confia mais e fala mesmo. Mas se isso não se pode generalizar, algo que se pode é que o povo aqui leva a sério isso de comer água. Quando saem pra beber, é só o que eles comem MESMO! Não tem essa de porção de fritas com queijo, lanche, frios... é só bebida! Rompi a tradição ontem, quando comi um churrasquinho na praça, afinal to acostumado a um tira-gosto com a cerveja.
Claro que não se pode generalizar, como em qualquer grupo de pessoas a quem você se refira. Tanto por aqui tem gente mais tímida quanto em São Paulo tem gente que confia mais e fala mesmo. Mas se isso não se pode generalizar, algo que se pode é que o povo aqui leva a sério isso de comer água. Quando saem pra beber, é só o que eles comem MESMO! Não tem essa de porção de fritas com queijo, lanche, frios... é só bebida! Rompi a tradição ontem, quando comi um churrasquinho na praça, afinal to acostumado a um tira-gosto com a cerveja.
Experiência engraçada também foi, enquanto conhecia tanta gente legal, ler Jorge Amado. Os personagens que ele descreve e que leio já há vários anos são muito parecidos com os que fui conhecendo por aqui. Antes, tinha a impressão de que ele falava sobre um universo que, se não era completamente ficcional, era referência apenas aos malandros, aos moradores do cais, típicos personagens dele. Não, descobri aqui serem a simplicidade e a conversa fácil características dos baianos todos, pelo menos da maioria que conheci.
Sábado, no aniversário da Helen (essa de marrom, embaixo). Ela tava com o pé pocado, e engessado, mas andando pra lá e pra cá.
Peraí. "Fácil" não é exatamente a palavra pra conversa. Estamos acostumados com Thomaz e com baianos da TV que falam sempre devagar, certo? Muita gente por aqui fala o baianês assim mesmo, compassado, como a família toda aqui e outros amigos. Alguns, porém, falam numa velocidade que é difícil de entender. Os maiores exemplos são Jacó, um dos amigos, e Raimunda, de quem já falei uma vez. Conversar com eles requer prestar primeiro atenção à forma do discurso, para depois interpretar o conteúdo. Se bem que agora já me acostumei mais com isso, já que conversei um tempão com Jacó.
Em um post desses anteriores o Thomaz disse que nunca precisou fazer sala pra mim. De fato. No primeiro dia ele fez questão, acho que por educação, de estar sempre comigo nas rodinhas. Hoje isso ainda acontece, claro, afinal estamos sempre juntos e os papos são comuns. Mas o fato de ele falar reservadamente com alguém, ir ao banheiro, buscar uma cerveja, ou não estar por ali por um motivo qualquer, nunca me deixou constrangido ou tímido. Sempre vem alguém falar de alguma coisa, perguntar ou contar da vida, de assuntos que vão de escola/faculdade/trabalho, a amigos/namoradas.
Peraí. "Fácil" não é exatamente a palavra pra conversa. Estamos acostumados com Thomaz e com baianos da TV que falam sempre devagar, certo? Muita gente por aqui fala o baianês assim mesmo, compassado, como a família toda aqui e outros amigos. Alguns, porém, falam numa velocidade que é difícil de entender. Os maiores exemplos são Jacó, um dos amigos, e Raimunda, de quem já falei uma vez. Conversar com eles requer prestar primeiro atenção à forma do discurso, para depois interpretar o conteúdo. Se bem que agora já me acostumei mais com isso, já que conversei um tempão com Jacó.
Em um post desses anteriores o Thomaz disse que nunca precisou fazer sala pra mim. De fato. No primeiro dia ele fez questão, acho que por educação, de estar sempre comigo nas rodinhas. Hoje isso ainda acontece, claro, afinal estamos sempre juntos e os papos são comuns. Mas o fato de ele falar reservadamente com alguém, ir ao banheiro, buscar uma cerveja, ou não estar por ali por um motivo qualquer, nunca me deixou constrangido ou tímido. Sempre vem alguém falar de alguma coisa, perguntar ou contar da vida, de assuntos que vão de escola/faculdade/trabalho, a amigos/namoradas.
Entre as galeras que encontrei no fim de semana, cabe destacar os que acabo de classificar como os onipresentes, gente que tava ali sempre e nunca recusou um bom papo e comer uma água. Além de Jacó, estão nessa lista Alano, que ainda tá devendo o almoço dos jornalistas - pra ele, Thomaz, Fernanda e eu -, Fernanda, Lorena e Anne. É engraçado que nessa galera estão reunidas diferentes gerações da cidade: o Alano (o farrista da foto, que comenta no blog e enriquece meu vocabulário) era da galera de Karol, que é 8 anos mais velha que a gente; Lorena, Fernanda e Jacó são da nossa idade; e Anne (a outra da foto) tem 17, idade do meu irmão.. Gente formada na faculdade, com ela em curso, ou ainda no colégio, tudo junto e misturado!
Disse que não o faria, mas cabe citar aqui outros que valeu a pena conhecer e ainda não entraram no blog. Se encaixam aí Décio, Helen, Monicão, Peu, Taliane, Hortênsia, Ana Bárbara, Julinha (prima do Thomaz)... (Tem o Lebrão também, amigo do Thomaz que me deu vinho a noite inteira outro dia, o Thomaz me mandou ter cuidado pra não ficar bêbado, mas sem problemas) Todo esse povo porreta certamente valeu a pena conhecer.
Pra terminar, já que hoje eu disse que o texto seria mais curto, seguem novas palavras:
Queixar (quêxar) = xavecar
Missi = grampo de cabelo. O melhor foi a frase em que conheci a palavra, com Anne contando que descobriu na infância que dava pra abrir com isso o cadeado de sua casa...
Trançado = que não vale nada, descarado, malandro, e tantos outros sinônimos. Pode ser ruim ou bom, e pelo contexto se entende...
Murissóca = mosquito ou pernilongo. Não que a gente não conheça a palavra, mas vale dizer que eles só chamam assim. Aliás, não precisa chamar não viu, elas vem sozinhas, e aos montes, tomo umas 10 picadas por dia!
Carritché = O Thomaz me disse que é rasteira, escorregão, por aí vai....
Falando do próprio umbigo (por Thomaz Fernandes)
Desde que eu fui morar em Piracicaba, sempre que falta um mês pra voltar pra casa de férias os sintomas são sempre os mesmos. Sem perceber eu começo a ouvir música baiana com mais frequência, fuçar o Orkut dos amigos que tão aqui, ficar inseguro para ouvir da família coisas que invariavelmente circulam entre cabelo-barba-peso-bebida-horários-cabelo de novo (coisa de mãe, avó, pai, irmã e amigas que se chamam bisquí etc.) e o frio na barriga me acompanha até entrar no avião. Em todos esses anos a volta é igualmente parecida, o sotaque volta mais forte, novos ditados, novos sons, fico mais irreverente, mais leve (psicologicamente).
Esse parágrafo ilustra um pouco o que chamo de recarregar as baterias, trazer de volta uma espécie de "brilho nos olhos", que vão ficando apagados conforme os meses em Pira vão passando. Não significa, nem de longe, que eu seja triste em Piracicaba, pois vivo muito bem nesse lugar que escolhi (ou fui escolhido) pra viver, mas é fato que em algum momento as raízes falam alto e eu preciso desse momento.
Iuri tem visto aqui, muita coisa que era atribuída somente à minha personalidade, pois de fato o é. É em meu pai que me espelho, dentre outras coisas, na hora de fazer piadas, ouvir o que todo mundo tem a dizer e desenvolver o máximo de argumentos possíveis para meu ponto de vista; em minha mãe na paciência, por muitos desconhecida, em executar as coisas e na simplicidade em falar de coisas amenas em meu avô Ronaldo e minha vó Marlene vou buscar histórias e informações em tudo que é lugar e amanhã ele conhecerá o outro lado da família, que me ensina muito a ser passional, risonho e festivo. Claro que nesse povo aí tem muito defeito e que na família tenho uma irmã que Iuri não vai conhecer dessa vez, que é a exata definição de uma irmã mais velha nas milhares de virtudes e nos vícios também.
Fora do ambiente familiar o mais jovem entre os Botões viu muita gente da minha galera, que me ensinou demais a perder o mimo, a brincar e me soltar no lugares, a não ficar grilado. A fonte da minha espontâneidade nas conversas picantes ou piadas sujas é visivelmente encontrada nos papos com todos, sobretudo com as meninas mais chegadas (até por quê é o que elas me falam que me interessa nesse assunto. Vivendo e aprendendo), que me respondem absolutamente TUDO que eu perguntar.
Na cabeça do baiano (isso é um generalismo) não há tanto grilo com relação a gente nova, por isso ele está sempre à vontade, a salvo um ou outro que chegam com malícia é todo mundo muito verdadeiro, pro bem ou pro mal.
Apesar de não ter planos para morar aqui tão cedo, é aqui que volto a ser do meu jeito, que me sinto na sala de casa mesmo em lugares formais. Amo Pira, assim como as pessoas que tão bem me fazem desde que pisei lá, mas a gente pode ter mil mulheres, mãe só tem uma e a Bahia é a minha.
P.S.: Ouçam Três Meninas do Brasil, demais, e também prestem mais atenção a sambas antigos, Já ouviram Cartola? E Cazuza cantando Cartola?
P.S. II: Para os que duvidam de que eu cortei o cabelo é só olhar nas fotos acima e comparar. Na que eu tô de blusa escura ele cobre o brinco, que pouco aparece, na de camisa clara ele é nítido, compara aí, ééééé. Fiz a barbaa, aleluuuia!
Fantástico!!
ResponderExcluirTermino de ler os posts mais baiana (e olha que sou muiiito bairrista!)e suspirando de orgulho por ser da Bahia, de Uruçuca, de uma família maravilhosa (inclusive meu irmão e cumpadre) e de amigos tão queridos.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirDemais esse blog! Cada post é um novo passo dentro da cultura baiana que é transmitida atravéz de vocês. haha
ResponderExcluir