quarta-feira, 14 de julho de 2010

Cultura em Ilhéus

Ontem acordamos na hora do almoço, aquele que seria na casa de dona Mirinha, a outra avó do Thomaz, mãe de Volney. No cardápio, carne de sol e pirão de leite novamente, um delicioso pudim de sobremesa, e a novidade do dia: galinha ao molho pardo. Maravilha!

O engraçado desse prato foi que anteontem tinha ouvido a história, da boca de Dr. Ronaldo, desse prato que me aguardava no almoço. Cabe contar a vocês: o filho dele, Ronaldinho, tio de Thomaz que ainda não conheci, quando morava em São Paulo, decidiu fazer a tal galinha para o pessoal que morava na república dele. Lá estava ele fazendo o molho pardo quando, ao misturar o sangue da galinha (base do molho), com vinagre, obteve um caldo negro, cor que tem o molho quando pronto. Eis que um dos que moravam com ele, ao ver o milagre da mudança de cor, saiu gritando "macumba, macumba!", e não houve jeito de fazê-lo comer a galinha. Olha, azar o dele, porque é realmente boa!

Ficamos com dona Mirinha assistindo a um capítulo "inédito" de Sinhá Moça, como diria Galvão. Soubemos que a vinda pra Ilhéus tinha sido cancelada, porque a casa ainda não tinha fogão. Mas pra que eu e Thomaz precisamos de fogão? Viemos pra cá apenas nós, de carona com um colega de Volney.

À noite, minha primeira experiência com moto-táxi, porque estávamos atrasados para o teatro, beirou o desastre. Se minha cabeça fosse apenas proporcional ao corpo, já seria grande demais pro capacete. Mas ela faz ainda questão de ser um pouquinho maior, e só conseguia ver por metade da viseira daquele capacete que, se eu caísse de cabeça, não protegeria nada. Fui na garupa do menor dos motoqueiros, e Thomaz na outra. Não tenho costume de andar de moto, a última vez que andei deve ter sido há uns bons anos. Quase tive cãibra de segurar naquela garupa. Sorte que foram poucos os minutos de horror.

Passada a experiência traumática, fomos à Casa dos Artistas, o Ponto de Cultura que comentei. No teatro popular, ontem era dia de Teatro a 2, em alusão aos R$ 2 que custava a entrada. A peça Teodorico Majestade - As Últimas Horas de Um Prefeito, do Teatro Popular de Ilhéus, grupo residente da Casa dos Artistas. Soube agora, ao procurar na internet que a peça, escrita e dirigida por Romualdo Lisboa, é apontada como responsável por revolucionar o teatro daqui, já teve temporada em Salvador e vai ainda esse ano ao Rio de Janeiro.

Lá fora, o cartaz do espetáculo. Coisa de primeira

A comédia fala de um prefeito corrupto, Teodorico Majestade, que rouba aos montes na cidade fictícia de Ilha Bela, sempre com a desculpa de querer recuperar o dinheiro investido na campanha, recheada de compra de votos, como se a reivindicação fosse legítima.

Cabe aqui comentar o Ponto de Cultura em si, que é muito parecido com os de Piracicaba. O tipo de gente que freqüenta é muito semelhante, formado por estudantes, artistas, jornalistas, professores e interessados na cultura em geral. Apesar de apresentada exaustivamente por aqui, a peça encheu os 50 lugares do teatro, e a qualidade do grupo e da casa são realmente impressionantes.

Como em Piracicaba, finalizado o espetáculo várias pessoas foram cumprimentar os artistas, que são locais, como percebo acontecer em todas as apresentações em palcos mais alternativos que já vi. Concluí que a gente ligada à cultura tem rosto parecido em todos os lugares, e quando comentei isso com o Thomaz ele acrescentou rindo: "com pequenas variações no bronzeado..."

Do teatro, fomos ao Vesúvio, aquele que coloquei foto no dia da visita turística em Ilhéus. Por lá comemos bolinhos de queijo, charque (carne-seca), bacalhau, e quibes, além de derrubar uma torre de chopp, neste que foi o primeiro lugar em que comi/bebi por aqui e me cobrou preço de turista, já que em Uruçuca era tudo muito barato. Bela noite ao som de músicos também locais, que tinham repertório com músicas realmente muito boas, como Alceu Valença, Geraldo Azevedo, Belquior, e aquelas músicas que sempre tocam em bar, e a estranha mania de começar as canções pelo refrão.

Saindo dali, mandamos um sorvete Cruz Vermelha no Ponto Chic e voltamos caminhando pela praia, não sem antes sentar um pouco na areia para admirar a brisa. Noite agradabilíssima. De volta ao apartamento, terminei Pastores da Noite, em que Jesuíno Galo Doido morreu, e comecei a ler O Anjo Pornográfico, e descobri que, embora não dê pra comparar, o Ruy Castro é gostoso de ler como o Jorge Amado. Ah sim, antes de dormir ainda perdi pro Thomaz no xadrez duas vezes, em um jogo disputado e uma lavada.


Thomaz e o Cruz Vermelha

Agora estamos de boréstia aqui por Ilhéus, e vamos à noite ou amanhã cedo pra Porto Seguro, onde a mãe do Thomaz vai dar um curso para uns índios em Coroa Vermelha. Devemos ficar na cidade até sexta. Pra quem não sabe, de boréstia é o mesmo que de boa, e é a expressão baiana do dia. Com ela acrescento que o povo aqui fala muito "véi", que deve ser minha mania por um tempo depois que voltar, e que é costume chamar os outros de "moral". Do tipo: "Vamos pra onde moral?" (moto-táxi), ou "Tem um trocado aí moral?" (pedinte).

Agora tou ouvindo Cartola na Lan House enquanto escrevo a postagem. Tá um dia lindo lá fora e acho que vou tirar foto da praia enquanto o Thomaz escreve o cometário dele, pra vocês saberem do que tô falando...

A praia ao lado da Lan House, fotografada enquanto era escrito o comentário abaixo

Beijos


Um "banho de civilização" em Ilhéus (por Thomaz Fernandes)

Já havíamos visto o anúncio da peça e queríamos vê-la sem mesmo sabermos exatamente do que se tratava. Além do que o mais jovem entre os Botões disse sobre a história, pude identificar uma crítica ao ex-prefeito de Ilhéus (Ilha Bela), Valderico Reis (Teodorico Majestade, rá). Apesar de um tanto engajada, foi fantástico notar que ela pode ser apresentada a todos, mesmo os que não conhecem a história (haja vista o post do Botão).

Ontem conhecemos uma mulher que era surda e recuperou a audição por meio de prótese, eu falava com ela enquanto Iuri acompanhava ansiosamente o plano de Sinhá Moça para invadir a senzala da fazenda Araruna com o Irmão do Quilombo, rs.

Ontem conversávamos sobre a delícia que seria morar em Ilhéus, enquanto andávamos na praia da avenida. Uma pena que o lugar não oferece muito espaço para jornalismo, seria ótimo transformar aquela paisagem em cotidiano novamente e ganhar uma grana e sentir tesão profissionalmente.

Eu sempre tive um pé atrás com relação a Ilhéus no sentido de vida cultural, mas ontem tive a melhor impressão possível, pois curti um som gostosíssimo, vi uma boa peça que encheu a sala em plena terça-feira chuvosa que tivemos.

A frase mais dita ontem era: "Faltava aqui um par de costelas", maneira singela de dizermos que o lugar seria muito romântico caso houvesse presença feminina.

Além de fogão, a casa ainda não tem TV e ficamos ouvindo a rádio daqui, Gabriela FM, o programa que passava era "LLLooove Sooongs" e enquanto eu detonava Iuri no xadrez, ouviamos Gisele do bairro Conquista dizer para Marcos do Princesa Isabel que ela respeita "a velocidade com que as coisas estão indo, mas preciso de uma aproximação mais íntima, quero penetrar no seu peito", praticamente uma bala de fuzil.

Enquanto ele mata o pobre Jesuíno Galo Doido, leio "o Homem nu", de Fernando Sabino e "O livro dos sonetos" de Vinícius de Morais.

P.S.: Ouçam Gerônimo (o Botão curtiu) "É d'oxum", "Hotel California" e assistam ao documentário L.A.P.A, que eu assisto pelo Youtube enquanto o Botão escreve.



3 comentários:

  1. Thomaz, "É d'oxum" é uma música interpretada por Jaruperi não é? Ela esta na trilha sonora de " Ó Paí Ó".
    "Nessa cidade todo mundo é d'oxum, homem, menino, menina, mulher..." DEMAIS! haha
    abraço :D

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  2. Realmete não damos o valor merecido as coisas que estão em nossa volta. Lembra uma vez Thom a gente cumendo água na Barrakitica com um péssimo som e os garçons com olhares mais querendo dizer "vão embora cambada". Ilhéus, aliás, a região tem dessas. Que bom que teve outra impressão da cultura local Thom. Botão negaum sou seu fã viu?! Tu escreve bem p caralhoo! Além dos coments de Thom as dica são filhas da puta de boa. É d'oxum é massa! Tem uma banda que toca esse estilo e que é muito boa é Da Cor do Som...xerãooo!

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  3. Thomaz, vc precisa cortar o cabelo!!!
    Tio Nado

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